Sabedoria na era da informação: Não há atalhos na trilha do conhecimento

 
Mas, ao mesmo tempo, é justamente essa situação sufocante que torna válido chover no molhado quando o assunto é “infotoxicação”: vivemos em um mundo repleto de informação, mas parece que estamos enfrentando uma crescente escassez de sabedoria. E, o que é pior, confundindo as duas coisas. Acreditamos que ter acesso a mais informação produz mais conhecimento, o que resulta em mais sabedoria. Mas, se há algo claro para mim, é que o oposto é verdadeiro: mais e mais informação sem contexto e interpretação adequados só atrapalha nossa compreensão do mundo em vez de enriquecê-la.
 
Essa avalanche de informação facilmente disponível também criou um ambiente em que um dos piores pecados sociais é parecer desinformado. Em nossa cultura é extremamente constrangedor não ter uma opinião sobre algo. De forma que, para parecermos informados, construímos nossos pareceres às pressas, com base em pedaços fragmentados de informações e impressões superficiais, em vez de nos basear em uma compreensão autêntica.
 
Conhecimento é o saber que não podemos saber. Para capturar a importância disso, primeiro é importante definir esses conceitos como uma escada de entendimento. Na base da escada estão os dados, as unidades de informação que simplesmente nos contam algum fato básico sobre o mundo. Acima disso vem a informação – a compreensão de como os diferentes dados se encaixam para revelar algumas verdades sobre o mundo. O conhecimento depende de um ato de correlação e interpretação das informações. No topo está a sabedoria, que tem um componente moral: é a aplicação do conhecimento que é importante para a compreensão não só de como o mundo funciona, mas também da forma como ele deve funcionar. E isso requer uma estrutura moral do que deve e não deve importar, bem como um ideal do mundo em seu mais alto potencial. É por isso que a figura do contador de histórias é ainda mais urgente e valiosa.
 
Um grande contador de histórias, seja um jornalista, um consultor ou um professor, ajuda as pessoas a descobrirem não só o que importa no mundo, mas também por que aquilo é importante. Um grande contador de histórias dança escada do conhecimento acima a partir de dados, contextualizando-os em informações, passando pela sua aplicação para gerar conhecimento, até chegar à sabedoria. Com símbolos, metáforas e associações, o contador de histórias ajuda-nos a manipular dados, interpretar informações, integrá-las como conhecimentos e transmutar tudo isso em sabedoria. A famosa escritora Susan Sontag disse, certa vez, que “a leitura estabelece padrões”. Storytelling não só estabelece padrões, mas, no seu melhor, faz-nos querer viver de acordo com eles para transcendê-los.
 
Uma grande história, então, não é simples fornecimento de informações, embora certamente ela possa informar. Uma grande história convida a uma expansão da compreensão, a uma autotranscendência. Mais do que isso, planta a semente para tornar impossível fazer qualquer coisa além de cultivar uma nova compreensão – do mundo, de nosso lugar nele, de nós mesmos, de algum aspecto sutil ou monumental da existência. Num ponto em que a informação é cada vez mais barata e a sabedoria cada vez mais cara, essa lacuna é o lugar onde reside o valor do contador de histórias moderno.
 
Penso da seguinte maneira: informação é possuir uma biblioteca cheia de livros sobre construção naval. Conhecimento é o que se aplica na construção de um navio. Acesso à informação – aos livros – é um pré-requisito para o conhecimento, mas não uma garantia do mesmo. Uma vez que você construiu seu navio, a sabedoria é o que lhe permite navegar sem afundar, protegendo-o da tempestade que toma o horizonte na calada da noite, manobrando de forma que o vento sopra vida em suas velas. Sabedoria moral ajuda a perceber a diferença entre a direção certa e a direção errada na condução do navio.

   
 

JERONIMO LIMA
CEO da Mettodo Reflexão Estratégica. Vice-Presidênte da ABCO- Associação Brasileira de Consultores.

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