Comunicação no Trabalho à Distância: “Desculpe, grupo errado!”

Sempre me vem à mente uma frase sensacional de Peter Drucker: “uma empresa sem as pessoas não é nada”.
Não me recordo se foi exatamente essa a frase ou se estava construída de forma diferente, mas a ideia central é esta. Se não me engano, Drucker a proferiu na obra “The Practice of Management” (1954), mas teria que lê-la novamente para confirmar. São pessoas, aquelas que decidem formar uma empresa, que organizam seus processos, contratam outras pessoas e () fornecedores, negociam com estes fornecedores, e que vão produzir bens ou serviços e oferecer, em um processo de comunicação em contato direto ou indireto com seu público alvo, estes produtos finais.
Nos dias de hoje, a comunicação entre as equipes se utiliza de inúmeros recursos oferecidos pelo constante avanço da tecnologia. A internet, como a rede aberta que é, possibilitou a expansão do uso do e-mail, praticamente sepultando o hoje extinto “telex” e, de alguns anos para cá, enterrou também a cultura dos aparelhos de fax, embora algumas poucas instituições ainda “resistam bravamente”. Cria-se, assim, o restrito e temporário mercado dos serviços de fax pela internet.
O pessoal de T.I. veio de vez e com tudo, com a intenção de facilitar a nossa vida. Bom, isso é o que dizem! Mas há controvérsias.
Obviamente, trata-se de uma piada. A tecnologia é fundamental, e sempre vem para revolucionar o mundo como conhecíamos, sendo fator-chave de pontos de inflexão e desenvolvimento. Sobre a Tecnologia da Informação, podemos afirmar sem medo que é hoje um dos principais pilares de praticamente todas as empresas. Dependendo do tipo da empresa, é o próprio pilar.
A comunicação entre equipes hoje está muito mais simples e acessível. A tecnologia da informação encurtou distâncias – não somos mais obrigados a viajar para fazer uma reunião com um cliente no exterior. Logicamente, nada substitui o aperto de mão e o “olho-no-olho”, bem como as possibilidades de leitura da comunicação não-verbal em uma negociação. Mas muitas reuniões de rotina podem ser feitas sem a presença física.
Hoje somos capazes de fazer reuniões por videoconferência conectando, até mesmo, centenas de pessoas na mesma chamada, todos os participantes podendo contar com recursos de vídeo, áudio e interação por escrito. “Videocall”, “Webinars” e “Lives” são hoje termos de nosso dia a dia. Sistemas de mensagens instantâneas como WhatsApp, Telegram, Messenger e outros, já carregam também as possibilidades de conexões simultâneas em vídeo, além de propiciarem a criação de “grupos” de interesse. Como o grupo da família, o grupo do futebol, o grupo das amigas de colégio, e os grupos de trabalho.
 
Separem suas contas de comunicação pessoais de contas de comunicação profissionais
Em uma situação de utilização constante de tecnologia como tem sido durante esta pandemia de COVID-19, muitos profissionais começaram a trabalhar da noite para o dia intensivamente de casa, enfrentando inúmeras distrações e situações de estresse – cachorro latindo, aspirador ligado, cônjuge interagindo, crianças brincando e uma fusão um tanto quanto improdutiva do que seria o horário de trabalho com o horário de lazer.
Inúmeros são os casos constrangedores que têm ocorrido envolvendo certas “confusões” na utilização da tecnologia disponível. Algumas reuniões gravadas se transformaram em “vídeos virais” até que engraçados, como o caso daquele executivo de pijamas com o cabelo despenteado e barba por fazer, o repórter de TV cujo filho com seu andador abre a porta e aparece na transmissão em cadeia nacional, e a esposa entra no quarto atrás do menino, o rapaz que vai ao banheiro com a câmera e microfone ligados no meio da reunião, e o executivo de terno e gravata que, ao se levantar da cadeira, está de calção ou roupa íntima.
Quando o fato é “engraçadinho” e inofensivo, podemos dar algumas risadas, e bola pra frente.
Porém, existem casos que podem prejudicar sua carreira, ocasionando demissões, perda de clientes e, em alguns casos, até mesmo processos judiciais. Mensagens trocadas por aplicativos de celulares possuem valor legal. Portanto, mesmo em grupos “informais” deve-se tomar muito cuidado com o que se publica, pois pode vir a ofender outras pessoas ou mesmo configurar crime, dependendo da postagem.
Não foi diferente com a popularização do e-mail. Já passamos por isso antes. O recurso de “responder para todos” sem ler o e-mail por completo causou – e ainda causa – problemas de relacionamento muitas vezes difíceis de reverter.
Publicações “cruzadas” em grupos podem gerar estas mesmas situações indesejadas e mesmo complicações na vida conjugal. Entenda-se publicações “cruzadas” como mensagens acidentalmente enviadas a destinatários trocados. Os casos vão desde envio de material pornográfico a grupos de família ou a grupos de oração, até a casos ainda mais sérios envolvendo empresas e clientes. Recentemente, uma senhora enviou ao grupo de sua família um vídeo que era destinado a seu amante, o que ocasionou o final de seu casamento e uma situação constrangedora irreparável para ambos. Aquela “piadinha inocente” sobre seu chefe que inadvertidamente foi enviada ao grupo do trabalho, a linguagem inapropriada ao se mencionar colegas ou clientes, e casos mais sérios como encaminhamento de material de cunho racista, xenofóbico ou outros que podem constituir crimes, têm sido constantes. Evite ser o “protagonista da vez”.
Caso algum grupo em que você esteja inserido transite material inapropriado, imediatamente desvincule-se do grupo, denuncie ao administrador ou moderador, explicitando de forma clara e documentada seu desconforto e discordância. Apague imediatamente esse conteúdo inadequado de seu equipamento. Não propague.
Em ambiente de estresse, é comum que algumas pessoas venham a se exaltar e subam o tom dos diálogos, especialmente durante a quarentena com dezenas de fatores de elevação do estresse, como a situação econômica, desemprego, situação política, incertezas e estímulos do ambiente. Sei que é muito difícil, mas tente se controlar. Não entre em discussões em redes sociais ou grupos de mensagens. Lembre-se de que a manifestação escrita é documento; então, pense muito antes de escrever ou encaminhar algo.
Escreveu um post polêmico em uma rede social? Gerou desconforto e não foi intencional? Desculpe-se imediatamente, e apague. Retrate-se. Não propague ódio nem discussões desnecessárias.
Certamente, os dois conselhos que se tiram deste artigo são de manter contas e equipamentos separados para suas comunicações pessoais e de trabalho, lembrando que utilização pessoal de propriedade de empresa pode gerar ainda um problema trabalhista enorme, e pensar. Pensar muito, pense diversas vezes antes de publicar algo.
As consequências podem “não ser brincadeira”.
 

 

Consultor André Vaccaro
ABCO – Associação Brasileira de Consultores – Diretor Núcleo Florida/EUA

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